A simbologia de ocupar a Rede Globo

Na manhã desta segunda-feira (22/1) centenas de manifestantes, representativos de movimentos sociais, ocuparam o prédio da emissora de TV, Rede

Por jangada.online em

23 de janeiro de 2018 às 22:17 atualizado às 06:30
Mais que uma emissora de TV. A Globo representa o pensamento político não da população, mas de uma elite tradicional do Brasil. FOTO: reprodução/Facebook

Na manhã desta segunda-feira (22/1) centenas de manifestantes, representativos de movimentos sociais, ocuparam o prédio da emissora de TV, Rede Globo, no Rio de Janeiro. As mobilizações foram impulsionadas por conta do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no caso do triplex do Guarujá (SP), pelo Tribunal Regional da 4.ª Região (TRF-4), que ocorrerá nesta quarta-feira (24/1) em Porto Alegre.

Mas, porque desde o golpe de 2016 acontece com mais intensidade manifestações em frente à sede da maior emissora de mídia televisiva do Brasil?

Movimentos sociais em prol de um julgamento com poder de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. FOTO: reprodução/Facebook.

Segundo integrantes do ato hoje “o objetivo da ação foi denunciar o papel do grupo de mídia na perseguição ao ex-presidente Lula e no aprofundamento do golpe de 2016″. Na história oculta da Rede Globo tem muitas passagens de influencia, perseguição e manipulação sobre a sociedade brasileira.

O histórico documentário televisivo britânico, de Simon Hartog, “Muito Além do Cidadão Kane”, produzido em 1993 para o canal 4 do Reino Unido mostra detalhadamente a posição dominante da emissora carioca sobre a sociedade brasileira. Sua influência e suas relações políticas protagonizadas pelo ex-presidente e fundador da Rede Globo, Roberto Marinho. O documentário resgata a manipulação grosseira de notícias para influenciar a opinião pública no Brasil.

No filme documentário é traçado o envolvimento e apoio da Globo à ditadura militar, sua parceria ilegal com o grupo americano Time Warner (na época; Time-Life), a política de manipulação dos Marinhos que incluía até auxílio a tentativa de fraude nas eleições do Rio (1982) para impedir a vitória do candidato ao governo do Estado, Leonel Brizola. Também aborda a cobertura tendenciosa sobre o movimento das Diretas Já (1984), quando a emissora noticiou um importante comício do movimento como um evento do aniversário de São Paulo para edição do Jornal Nacional. Outro tema polêmico destacado no documentário é o histórico debate no segundo turno das eleições presidenciais do Brasil (1989) que com estratégias antidemocráticas favoreceu o então candidato Fernando Collor de Melo, frente ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Outro ponto ressaltado no filme é a controvérsia negociação envolvendo ações da NEC Corporation e contratos governamentais.

A história da emissora carioca não nega a manipulação de notícias a favor de candidatos em eleições presidenciais. FOTO: reprodução/Facebook.

A Rede Globo bem que tentou impedir que o documentário chegasse ao Brasil, mas sua censura não foi capaz de segurar o filme. Sucessivamente a emissora carioca deixa a desejar quando o tema é política brasileira. Sempre faz do seu poder e da sua forma de monopolizar a informação, tentar abranger o intelecto das pessoas e influencia-las ao ponto de tentar escolher seus representantes públicos através da vontade a mando do grupo político que a Globo sempre tenta defender utilizando formas de manipulação brandas ou até grosseiras.

Este fenômeno da censura judicialmente legalizada, direcionada, acontece toda vez que algum político tenta desafiar o conglomerado ou não é de confiança do grupo ou não realiza as vontades da emissora e de seu grupo político.

Entretanto, com o advento da internet e da informação mais igualitária a eleição do Lula em 2002 foi o primeiro anúncio de que a Globo não estava tão poderosa como antes. A reeleição do Lula constatou mais uma vez a queda da emissora que disputava agora o poder da informação com a inovação da internet. No entanto, a união com fortes conglomerados da comunicação brasileira como revistas semanais, jornais e mais emissoras de rádio e TV com sede no sudeste do Brasil conseguiram impor o golpe de 2016 como se fosse uma conquista social. Neste ano de crise política e econômica no país a emissora carioca trabalhou 24 horas para derrubar a então presidente Dilma Rousseff.

E neste cenário chegamos ao ano eleitoral de 2018 que une a mídia, integrantes da justiça e demais forças do poder para impor e modificar o cenário eleitoral, onde o mesmo Lula de 1989 está em primeiro lugar nas pesquisas, mas que está quase sendo retirado pela união do oligopólio das emissoras de TV em conjunto com as facções do judiciário brasileiro.

A simbologia de ocupar a emissora TV Globo vem desta tradicional história de ataques contra a honra à democracia e a sociedade brasileira. É por conta deste contingente de ações nocivas as comunidades populares do país, por décadas, que ocupar o espaço onde se constrói a fantasia noticiosa, cheio de interesses para beneficiar grupos restritos de pessoas, faz da ousadia de se manifestar contra este maior símbolo de manipulação brasileira um ato heroico e até revolucionário. Desde o golpe de 2016 que ocupar os meios de comunicação pertencentes a poucas famílias de abastados do Brasil se faz necessário, enquanto as mídias tradicionais não forem popularizadas ou as comunidades não serem detectores dos meios de comunicação concedidos pelo poder público. Enquanto a democratização dos meios de comunicação não for uma realidade outros golpes serão testemunhados por várias gerações de brasileiros impulsionados pelas meias verdades dos noticiários e comentários televisivos, audíveis e escritos.

 

Sobre a ocupação

Em nota, a TV Globo se defendeu das acusações dos manifestantes de agir com “imparcialidade” em seu noticiário e disse “que protestar é um direito do cidadão, sempre que dentro da legalidade”. “[A TV Globo] cobre os fatos com isenção e profissionalismo e que assim continuará a fazer o seu trabalho”, disse a nota.

 

Assista ao documentário de Simon Hartog, “Muito Além do Cidadão Kane”:

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