História do Ceará também corre risco de desaparecer
Numa sociedade sem memória os guardiões da história também correm riscos de se acabar: a sede do Museu do Ceará está com infiltrações e abandonado pelas autoridades.
Com a tragédia do descaso e da destruição do Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro, acontecido no último domingo (2/9) fica uma dúvida para os apreciadores da história e pesquisadores da cultura cearense: será que os raros museus do Estado também estão abandonados e correm risco de serem destruídos?
A redação virtual do jangada.online apurou e procurou saber com um dos maiores estudiosos da história e da cultura do Estado, Gerson Linhares, que é diretor da ONG Caminhos de Iracema, Museu do Caju, além de diretor do Tribos Ceará Turismo, especialista em turismo cultural.
Como você ver a destruição do Museu Nacional?
Gerson Linhares: Quem está a frente dos museus, está totalmente abalado. O nosso museu é pequeno, imagina aquele que guardava toda memória do Brasil? Aqui no Ceará não é deferente. O que mantém os museus no Estado talvez seja as atividades relacionadas com pessoas ligadas a ONGs ou institutos e não ligadas ao Governo do Estado ou prefeituras. Ao todo o Ceará possui mais de 150 museus. Em Fortaleza mais de 60 e na Região Metropolitana mais de 80, mas o que sobressai na bandeira da defesa dos museus são as atitudes ligadas as ONGs e não ligadas ao poder público.
Como está a situação do nosso maior ícone da história – o Museu do Ceará?
Gerson Linhares: O Museu do Ceará está com infiltrações, o ar condicionado não funciona em determinadas alas, e desta forma, prejudica a preservação das próprias peças, além da não expor grande parte das peças. Na realidade o Museu do Ceará não expõe todo seu material. O prédio é histórico, mas não cabe todo o acervo que poderia ser ofertado para população. Estamos órfãos do cuidado e do zelo dos museus no Estado do Ceará. Realmente estou na labuta há 11 nos de atividades com o Museu do Caju, localizado em Caucaia. Caso não fosse o nosso trabalho de articulação e educação patrimonial nas escolas, as visitantes, já até poderíamos ter encerrado as atividades. O problema que o museu histórico que o Rio passou foi falta de uma articulação, de uma política pública, de uma gestão eficiente. Tem como a gente fazer. Para isso temos as grandes empresas que podemos chamar para conversa e formalizar parcerias. É isso que tetamos fazer aqui no Ceará.
A política atrapalha na gestão dos museus?
Gerson Linhares: Quem tem que gerenciar os museus tem que ser pessoas realmente ligadas a cultura e não indicação política. Os museus precisavam ter mais atenção, inciando pelos bons gestores e articulação e participação das pessoas e instituições, em atividades extras. O Brasil brinca de brincar de museus. O exemplo é este do Rio de Janeiro. É o que acontece também aqui no Ceará, salvo as exerções com instituições sérias que sabem defender a bandeira dos museus no Estado.
A sensibilização da população e dos gestores público poderiam salvar o que ainda resta dos museus cearenses?
Gerson Linhares: O Governo não investe em educação patrimonial e não faz com que o cidadão tenha um senso crítico. É raro você ver uma escola em museus. Se não for pelo interesse dos educadores, as secretarias nenhuma não tem este interesse, parecem que o museu não faz parte desta educação. A realidade é que existem mais escolas particulares visitando o museu do que os próprios alunos dos centro de educações públicas. Falta a base da educação patrimonial.
De um modo geral a situação dos museus no Ceará estão razoáveis?
Gerson Linhares: A situação dos museus no estado do Ceará não estão boas. Principalmente aqueles ligados ao poder público. Os museus mais preservados tem algum vinculo com instituições independentes. No Ceará é um descaso total. A própria sede do museu do Estado está abandonado, com infiltrações. Falta uma participação maior das secretarias municipais.
O que acha do município de Caucaia não possuir um espaço que preserve a memória do seu povo?
Gerson Linhares: Em Caucaia o museu oficial fechou. O museu que tinha o memorial dos Tapeba também fechou. Estavam pensando em fazer o museu dos quilombolas, mas também não se resolveu. O descaso de sempre. Nós matemos o museu do Caju no município porque é uma luta particular da nossa ONG e também pela nossa articulação com empresários e outras instituições, fazemos eventos, temos feiras culturais itinerantes porque temos que ir até o povo e projetar o museu nas comunidades e mídias sociais.
Há risco da história s repetir no Ceará e nós perdemos o Museu do Ceará?
Gerson Linhares: Sempre há risco, principalmente se for em prédios antigos. Por exemplo o prédio que abriga o Museu do Ceará é de 1871, que tem toda sua arquitetura antiga com infiltrações e ninguém sabe sobre qual o estado físico das fiações elétricas.
A situação dos museus no estado do Ceará não estão boas. Principalmente aqueles ligados ao poder público. Falta a base da educação patrimonial. Gerson Linhares