História de ‘Diego do Violino’ vira livro que aborda a inspiração na arte e o luto de quem se foi antes da hora

Trazendo relatos de familiares e amigos próximos, obra se aprofunda na vida de menino que ficou marcado por uma das fotos mais emocionantes dos últimos tempos

Por jangada.online em

14 de dezembro de 2023 às 13:04
Foto: divulgação

Diego Frazão Torquato tinha apenas 12 anos de idade quando, com lágrimas no rosto, reproduzia uma bela harmonia em seu violino para se despedir de seu professor e coordenador social da ONG AfroReggae, Evandro João da Silva, que fora brutalmente assassinado durante um assalto no Centro do Rio de Janeiro. A cena, registrada pelo fotógrafo Marcos Tristão, foi reconhecida como “uma das fotos mais emocionantes dos últimos tempos”.

Através de sua melodia melancólica e seu olhar triste, o pequeno garoto de Parada de Lucas impactou a toda uma geração. Sob o título de “Luto no AfroReggae”, a história ganhou a capa dos principais jornais do Brasil e agora, mais de uma década depois, se torna livro pelas mãos do escritor e radialista Josimar Salles. “Anjo do Violino: lágrimas de gratidão” traz relatos de familiares e amigos próximos enquanto se aprofunda em uma história de inspiração na arte e luto de quem se foi antes da hora.

Assim como a cena que o deixou famoso, a vida de Diego ficou marcada por muitos altos e baixos. De origem humilde, ele encontrou na música não apenas um lazer, mas uma resposta a todos os obstáculos de uma vida sofrida. Em um relato pessoal feito ao autor da obra, a irmã do menino, Priscila Torquato, contou que, apesar dos momentos difíceis, a arte servia como um porto seguro para a família e, especialmente, para Diego.

“Quando nossa mãe foi diagnosticada com câncer foi um período muito complicado, e mesmo assim o Diego nunca perdeu a esperança de que ela seria curada. Quando ela iniciou o tratamento, era muito difícil pra nós a vermos naquela situação. E a música serviu como um refúgio, um momento de calma e alegria dentro de casa”, explicou a irmã.

Foto: divulgação

Nascido de forma prematura, com apenas sete meses, Diego sempre teve uma saúde frágil. Aos quatro anos de idade foi diagnosticado com meningite e tuberculose. Apesar disso, nunca desistiu da vida, pelo contrário – mesmo durante os períodos em que ficava internado no hospital, sempre se mostrou uma criança alegre que inspirava amigos, familiares e todos que o conheciam.

Outro relato marcante foi o de Matheus Lourenço da Costa Lima, amigo de Diego que aparece ao seu lado na icônica foto que estampou os jornais. De acordo com ele, era gostoso ficar perto de azul – como carinhosamente era chamado dentro da comunidade – que transmitia energia positiva onde quer que fosse.

“Ele era uma criança muito alegre e feliz, que tinha um grande entusiasmo com a música. Sempre tocava com emoção e contagiava as pessoas. Era uma criança simples, mas que se tornou um ídolo na comunidade. Eu era muito tímido, e tinha uma afinidade maior com ele, então estávamos sempre juntos. Ficar ao seu lado sempre me fez bem, ele tinha um astral diferente dos outros”, relatou o amigo

A ideia de transformar esses relatos em livro surgiu através de uma situação inusitada. Enquanto procurava por histórias inspiradoras para seu programa de rádio, Josimar se deparou com a imagem do “Diego do Violino”, como ficou conhecido na época. De forma despretensiosa, decidiu postar a foto nas redes sociais seguidas de um breve texto – o resultado impactou até ele mesmo: em menos de dez dias, foram mais de 13 milhões de pessoas alcançadas com a publicação.

Assim, percebeu que precisava aprender mais sobre aquele menino, e contar tudo que ele viveu para o mundo, desde seus sorrisos até suas lágrimas, o olhar de gratidão. Sua ascensão durou pouco tempo – a imagem antológica aconteceu em 2009, e alguns meses depois Diego nos deixou. Entretanto, Salles afirma que esse breve período deve ser eternizado e servir de estímulo para todos aqueles que, mesmo diante das piores situações, conseguem encontrar um motivo para sorrir.

“Este livro é um convite para que possamos ressignificar nossas vidas. Fazer valer a pena nossa existência, realizar sonhos e construir um mundo melhor, para todos. Diego era um garoto preto, pobre, que morava em uma comunidade cercada pela violência e pela desigualdade no Rio de Janeiro, e mesmo diante dessa realidade, mostrou seu talento e serviu como inspiração para tantas outras crianças”, completa o escritor.

O autor conta ainda que, durante a conversa com a irmã do garoto, ela revelou aquilo que acredita ser o seu maior legado – “Não importa como esteja a nossa vida, que a gente viva com muita alegria, disposição e amor, assim como o Diego viveu a dele”, disse ela. A frase ecoou em sua cabeça, e despertou o desejo de fazer mais.

Foto: divulgação

Por isso, uma de suas intenções é que o lançamento do livro promova um maior debate sobre os projetos sociais que levam cultura e esporte para dentro das comunidades, para pessoas, muitas vezes, invisíveis. Para ele, exemplos como o do AfroReggae em Parada de Lucas – encerrado pouco depois da morte do rapaz – devem se tornar cada vez mais presentes, trazendo um espaço mais inclusivo, abrindo portas e transformando vidas.

“Não poderia deixar de sonhar com a possibilidade de novamente proporcionar aos moradores, onde a história do menino do violino ficou registrada, o retorno deste projeto fantástico que infelizmente acabou. Com o apoio da comunidade, dos governos, das empresas e até mesmo de ex-alunos tenho certeza que podemos formar novamente a ‘Orquestra Diego Frazão Torquato’”, finaliza.

 

 

 

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