Novo estudo oferece esperança para pacientes com câncer de pulmão em estágio avançado
Pesquisa apresentada na ASCO 2025 mostra aumento da sobrevida com nova estratégia de tratamento; Oncologista baiana destaca os benefícios

Grande parte dos diagnósticos de câncer de pulmão no Brasil ainda ocorre em fases avançadas da doença — realidade que compromete as chances de cura e limita as opções de tratamento disponíveis. Esse desafio é especialmente evidente na rede pública de saúde, onde mais de 90% dos casos são identificados tardiamente. Na Bahia, a estimativa é de cerca de 1.360 novos casos entre 2023 e 2025, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Nesse contexto, avanços terapêuticos representam uma mudança significativa na perspectiva dos pacientes.
Uma dessas inovações foi apresentada durante o congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) 2025, em Chicago. O estudo IMforte, um ensaio clínico de fase 3, revelou resultados promissores ao testar uma nova estratégia de manutenção para pacientes com câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) em estágio avançado. A combinação dos medicamentos lurbinectedina e atezolizumabe superou o tratamento padrão atual, tanto em tempo de controle da doença quanto em sobrevida global.
A pesquisa avaliou 660 pacientes com CPPC avançado, sem metástases no cérebro ou na coluna. Após a terapia inicial, 483 participantes com resposta estável seguiram para o tratamento de manutenção. Entre eles, o grupo que recebeu a combinação dos medicamentos apresentou o dobro do tempo médio sem progressão da doença (5,4 meses versus 2,1 meses) e maior sobrevida média (13,2 meses contra 10,6 meses), além de uma redução de 27% no risco de morte.
A oncologista Clarissa Mathias, líder do Cancer Center Oncoclínicas e Hospital Santa Izabel, em Salvador, e membro do conselho da ASCO, comenta os impactos da descoberta:
Este é um avanço significativo para pacientes com câncer de pulmão de pequenas células, que há muito tempo contam com poucas alternativas eficazes. A nova combinação oferece uma chance real de prolongar a vida e manter a qualidade durante o tratamento, o que é fundamental na nossa rotina clínica”
Conhecido pelo comportamento agressivo e alta taxa de metástase precoce, o câncer de pulmão de pequenas células tem sido historicamente um dos mais difíceis de tratar. A lurbinectedina atua bloqueando a transcrição do DNA nas células tumorais, enquanto o atezolizumabe, imunoterápico, estimula o sistema imune a reconhecer e atacar as células cancerosas. A ação combinada dos dois medicamentos gera um efeito sinérgico, com melhores respostas clínicas.
Embora os resultados do IMforte representem um avanço importante, a sobrevida livre de progressão ainda é limitada, reforçando a necessidade contínua de novas pesquisas. No entanto, os dados já abrem caminho para possíveis aprovações regulatórias e para que mais pacientes possam ter acesso a tratamentos inovadores.
Ainda há um longo caminho pela frente, mas estamos progredindo. Esses resultados mostram que a ciência está avançando em direção a soluções mais personalizadas e eficazes, e isso nos dá esperança. Ver opções terapêuticas mais promissoras chegando à prática clínica, especialmente em cenários desafiadores como o nosso, é um sinal de que estamos construindo um futuro melhor para os pacientes”, finaliza Clarissa Mathias.