Na fila da ingratidão
Como os pingos da chuva. A fila cresce. Bem cedo, antes do galo cantar, antes do pão esquentar. Vai aumentando,
Como os pingos da chuva. A fila cresce. Bem cedo, antes do galo cantar, antes do pão esquentar. Vai aumentando, nos passos da esperança, dobrando quarteirões, seguindo os postes das ruas. Acrescentando um por um. São muitos a procura de um emprego. Na fila da seleção da prefeitura os recursos contra a triagem batem recordes. A universidade é quem qualifica as bolsas que pagarão salários espremidos entre a miserabilidade e a angústia de garantir uma ocupação de rendimentos vencidos. Ordenados que já começam defasados.
As calçadas da rua Joaquim Mota já não aguentam mais tanta gente pisando em suas costas. É homem, mulher, dois gêneros. É novo, velho, senhora, novinha. É gente demais querendo passar no chamado “processo de qualificação profissional”. Nome bonito para explicar o caos de um país falido.
Tempos sem empregos. Tempos de crises. Tempos onde a corrupção tenta ludibriar as leis, numa dança mortal da honestidade que evapora em cima da sombrinha da mulher na fila. Em tempos de criminalidade, enfrentar a sorte na fileira é digno de honra ao mérito. Exemplo para qualquer político. Onde um vacilo vira uma oportunidade de vida. Mesmo que para isso a sorte seja tentada na roleta das vagas reservadas, já com seus donos prontos a tomarem de conta.
O moço segura os documentos no suor que se mistura a chuva. A madame toda emperiquitada passa de vidro fechado e logo grita para o último da fileira sair da frente do seu carro importando, pago com dinheiro subtraído de cada um, presente na fila.
E tem vagas reservadas para fantoches de vereador! Mas, quem manda existir eleitor corrupto? Aquele que vende o voto nas milhares de filas das urnas. Que ao invés de pensar macro, pensa micro na hora da eleição, e só apela para seu umbigo, sem fundo, sem olho, sem nada, só o egoísmo que pulsa mais alto do que a ambição dos políticos experientes, comercializadores de pontos. Estes são os passos de uma cidade cheia de currais, onde o animal é o eleitor preso, bicho burro, e o pasto é o voto em formato de dinheiro sujo.
Na lista dos selecionados tem gente qualificada no meio dos que não sabem nem ler. Tem prego onde só entra parafuso e remédio onde só cura a doença programada para não doer. É o processo cheio de leis, fé e autoridade. Onde a justiça da mais pura da legitimidade, não toca a integridade, e assegura a mais justa seleção pública da fase terrestre! Que diga a Uece em se meter nos matos queimados da ingratidão dos recursos a serem analisados.
A fila?
Já tem gente vendendo sua vez. Gente dormindo. Gente gemendo. Gente curtindo. Na fila que só cresce, subindo todas as calçadas do Centro. Arrodeando a Sede. Sumindo pelos distritos das serras, da imensidão dos sertões. Fazendo círculos nos becos da Jurema. Seguindo para o desconhecido litoral esverdeado. Linha que aumentava igual aos pingos da chuva. Somados aos sem empregos de toda cidade. Cercando a fronteira do município. Abraçando por inteiro, a Caucaia.
Por Tiago Viana
E q triste realidade!
Fila pra quê? Se e eles q vão escolher,
Quem vai ganhar ‘ quem vai sofrer…