Da política a igreja: Pastor Anderson condena o uso da religião para eleger candidatos

O Pastor caucaiense faz uma análise sobre a política no cenário atual de eleições e combate o uso do apoio político pelos pastores.

Por jangada.online em

21 de outubro de 2018 às 16:04 atualizado às 18:09
Política e religião não combinam. Foto: divulgação.

 

Dono de um estilo particular, discreto e fiel à palavra divina o Pastor Anderson Cabral já foi cobiçado por muitos políticos para fazer campanha eleitoral e apoiar candidatos em eleições, mas nunca cedeu espaço no púlpito ou utilizou seu poder influenciador sobre as pessoas como balcão de troca de favores políticos e afins. Há 18 anos o jovem Pastor do município de Caucaia (CE) descobriu um novo horizonte em sua vida que é seguir os caminhos que considera de Deus. Há nove anos decidiu estar mais junto de Cristo e ministrar a palavra da Bíblia Sagrada como Pastor. Há sete anos dirige a Igreja Assembleia de Deus Gileade Unção e Restauração, localizada na rua João Forte, 580, no bairro Padre Romualdo, em Caucaia. O Pr. Anderson é uma referência no município como um fiel líder religioso que sabe separar política de religião e que realiza obras além dos limites das paredes de sua igreja. Foi neste clima de fé, religião e eleição que conversamos sobre a igreja e seu uso em campanhas eleitorais no Brasil.

 

“Não sou paraquedista. Não sou um menino que começou só agora a falar de Deus e de outros assuntos. Não, Não vim de hoje” Pr. Anderson Cabral

 

jangada.oline: Como o Pastor Anderson analisa a questão da Igreja está cada vez mais atrelada a política?

Pr.Anderson: No meu entendimento a religião e a política, caso fomos buscar na história e focando em nossa nação, no Brasil, não temos como desassociar a religião da política. Nossa história se inicia com a chegada dos padres jesuítas para catequizar os índios. Então, diante os fatos é bem complicado você querer dividir. É como se viesse já tudo pronto, tudo junto, num mesmo pacote, historicamente falando do país.

 

jangada.online: No momento contemporâneo como você ver esta associação? Esta junção entre religião e política?

Pr.Anderson: Socialmente falando, penso que no passado, em outros países de onde surgiu no Império Romano, quando o imperador estaria tanto com poderes políticos como religiosos, ali já deu uma complicada, a partir deste momento. A coisa já vem de muito tempo. Fazendo está análise mais para os dias atuais, focando a política em si, acredito que todos nós temos que entender a política e sermos políticos. Agora a minha dificuldade é em relação à politicagem. Como eles pegam esta política e arquitetam tudo. O problema é em relação a isso.

 

jangada.online: De certa forma hoje os fiéis são usados para engordar o corpo em campanhas eleitorais?

Pr.Anderson: Quando falamos da visão histórica, o imperador acabou ficando também com estes dois poderes o político e o religioso. Então o que acontece hoje não é muito diferente do que já acontecia. Hoje o que está acontecendo são lideres se aproveitando e lançando os seus candidatos de preferência. Aquilo que eles arquitetam e passam para o seu povo como a melhor saída e solução, com aqueles candidatos que eles querem eleger. Sendo que por detrás disso existe todo um jogo de interesses.

 

jangada.online: A Bíblia fala deste uso religioso para reverter em poder político?

Pr.Anderson: A Bíblia fala. Quiseram levantar logo Jesus Cristo como um líder naquela época, só que Jesus não aceitou isso. E é tanto que quem se sobressaiu foi Barrabás, um líder religioso radical que naquele período já tinha seus adeptos, assim como Jesus tinha os seus discípulos. Só que quando o rei pergunta a Jesus desta questão “diz que tu é o rei dos judeus, o maioral e líder deles que comanda tudo”; Jesus responde que o reino dele não é desta Terra, então com esta resposta Jesus já faz na hora a separação. Minha visão em relação a este assunto é a mesma de Cristo. Eu sendo um seguidor de Cristo, o meu posicionamento é o mesmo. Jesus teve a oportunidade de sobressair como líder político e não apenas religioso, mas ele negou “o meu reino não é deste mundo”. É o reino de Deus e a justiça que veio para combater todo aquele sistema tanto político como religioso. Ele veio para combater aquilo. Foi perseguido. É tanto que vem o chefe do Sinésio, Caifás, e ali ele sempre arquitetava, ia até o imperador e levava a notícia de que estava surgindo um rapaz chamado Jesus e estamos vendo que ele está incomodando e nós estamos aqui em nossas orações e não esta sendo bom. Então eles já começaram a arquitetar, unindo a religião e o Estado, a questão política, para tentar deter Jesus, já neste momento da acessão de Jesus em relação a sua liderança.

 

jangada.online: Na passagem bíblica que Jesus entra no templo e ver pessoas comercializando a fé lembra os dias atuais onde existem algumas igrejas fazendo da fé um produto e tentando se incluir politicamente?

Pr.Anderson: Isso foi onde o Sinésio ficou bastante irritado com Jesus porque eles também recebiam por vender tudo aquilo ali em frente ao templo. Como funciona? As pessoas de outras regiões vinham até o templo para adorar ao Senhor e os mercadores que fecharam acordo com o Sinésio para vender o que eles quisessem naquele espaço. Aí vendiam animais e várias coisas para facilitar porque às vezes as pessoas vinham de muito longe para entregar o animal lá no templo, era um pouco inviável. Então era melhor comprar ali perto. Só que quando iriam comprar o preço era alto porque tinha que dar a parte do Sinésio, uma espécie de aluguel. Jesus chega, atento a todo este sistema, a politicagem que estava acontecendo naquele momento, e fica irritado. “Vocês estão fazendo da casa do meu pai um convívio de salteadores”. Então Jesus usa de palavras duras chamando aqueles homens de ladrões, de estarem blasfemando. É a primeira vez que a gente ver Jesus irritado, alterado. Ele vai e chuta as mesas, tira o chicote, e vai para cima. Fica bastante nervoso, bastante irritado.

 

As pessoas hoje preferem uma mentira doce a uma verdade dura” Pr. Anderson Cabral

 

jangada.online: O cristão para ser digno e fiel a Deus tem por obrigação escolher um candidato cristão para lhe representar no cargo público?

Pr.Anderson: Outra coisa que eu não concordo. Não tem nada a ver uma coisa com outra. Mais uma vez não dar certo. Se eu colocar um candidato cristão (meu) ele vai defender apenas a minha classe. E o resto? (risos). Então fica complicado, ele vai defender só o meu lado. Mas, e os demais? Temos que ser democratas e defender os interesses para todo o país, toda a nação. Não podemos só favorecer apenas os “cristãos”. Ou apenas só os “negros”, os “índios”, separadamente. Não, somos todos. Não podemos dividir estas camadas, tem que haver este entendimento.

 

jangada.online: Jesus Cristo tinha um olhar para as causas sociais. A preocupação social que Cristo tinha se assemelhava a um dos pilares do comunismo que é a igualdade social. Como o senhor enxerga as informações muita das vezes controversas entre socialismo, capitalismo, esquerda e direita e o que é o ideal para um representante da população possuir? 

Pr.Anderson: Conheço um pouco da história do socialismo, da luta das classes menos favorecidas, caso comparássemos neste aspecto com certeza Jesus tinha uma preocupação muito grande com aqueles que eram desfavorecidos. A própria Bíblia dá uma ênfase as classes menos favorecidas. Então se pesquisarmos no Antigo Testamento o mandamento diz que nós precisamos nós preocupar com as viúvas, com os órfãos, então há esta preocupação social, sim. Creio que o grande equívoco no entendimento hoje do socialismo é porque no entendimento para quem conhece e sabe do socialismo é perfeito, só que quando parte para praticidade, aí a coisa muda. Sempre tem alguém que se aproveita da situação. O socialismo combate o capitalismo, neste sistema que os ricos ficam cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobre. Mas, há um contraditório porque às vezes o líder do que defende o socialismo esquece os seus princípios e entra no caminho do ter e enriquece. Então isso é muito controverso, hipocrisia. Isso jamais acontecia com Jesus Cristo. Jesus morre, não tem bens, não tem mansões, colocando no contexto dos dias de hoje. Jesus morre sem bens, os apóstolos também não tem. O que vemos hoje às vezes é um discurso até bonito. Mas, quando aprofundamos descobrimos os milhões, os bens, então ficam dissociado com aquilo que ele está verbalizando no discurso dele.

 

Às vezes eu falo aquilo que as pessoas não querem ouvir, mas aquilo que as pessoas precisam ouvir” Pr. Anderson Cabral

 

jangada.online: Qual o conselho o Pastor Anderson daria aos líderes religiosos das igrejas evangélicas mais conhecidas do Brasil que apoiam candidatos e pedem votos publicamente aos seus seguidores? 

Pr.Anderson: Diria para não se envolverem. Não se associarem com isso. Digo também que os candidatos não se associem com os pastores, com líderes religiosos. Quantos mais grupos os candidatos poderem alcançar melhor para seu desempenho no voto. Mas, diria para todos não se envolverem uma coisa com a outra. Os pastores tem que cuidar das suas ovelhas. Nós temos é que pregar o evangelho do Senhor Jesus. Devemos ter uma visão mais ampla e sair dos templos e seguir para as ruas, não para pedir voto, mas fazer a obra onde realmente está precisando. E tem muita gente precisando. Há um índice de desemprego muito grande. Há muitas pessoas sofrendo, muitos moradores de rua. Tudo isso me emociona porque vemos todo este sofrimento e esta mudança no nosso país. Tudo isso acontecendo. Está ênfase dos líderes religiosos e não vejo isso com bons olhos. Quero ser profético no meu discurso: vai ter colheita e não será das boas.

 

jangada.online: Alguns líderes religiosos alegam que tem que ter representante na política para interceder nos interesses da igreja e da família. O que o considera disso?

Pr.Anderson: Agora você tocou num assunto muito importante. A minha postura em relação religião e política é que não tenho aversão ou abominação aos políticos, não é por aí. Não podemos radicalizar a coisa. Em todas as esferas das camadas da sociedade os cristão precisam ter os seus representantes, seja na cultura, seja na política, seja onde for. Precisamos ter os nossos representantes. Como também as demais outras classes e categorias. Nós cristãos também devemos ter nosso espaço, nada mais justo. A minha questão só é esta politicagem, isso me incomoda. Não sou contra os cristãos na política. Nós temos uma bancada evangélica que aos meus olhos e aos olhos de muito também não tem tido tanta ênfase. Em problemas maiores que deveria a classe evangélica se impor e vemos muitas vezes eles sendo complacentes. Como na votação da Reforma Trabalhista, por exemplo, que atinge diretamente os pais e as mães das famílias.

 

jangada.online: A questão da legalização ou não do aborto e seus casos atípicos como a mulher que sofreu violência sexual, o que o Pastor Anderson diria a bancada evangélica na Câmara dos Deputados ou no Senado?

Pr.Anderson: Cito sempre o texto de Jeremias, Capítulo I, onde ele fala que desde o ventre da mãe “eu já te conheci e te escolhi”, então para nós o entendimento é que já há vida. É muito incoerente ao cristão que Jesus já apregoou a vida, a paz e a coisa ser inversa. No caso de estupro é um assunto muito delicado. Segue para vários outros entendimentos. Mas, mesmo assim eu não sou a favor do aborto. Acho que mesmo que tenha sido algo, porque só a mulher sabe a agressão e a ferida que causa isso. Mas, é um ser que não teve nada haver com o momento, com o acontecido, mesmo que tenha sido algo tão perturbador. Pode até ser que a partir daí nasça um renovo, venha a ser algo de bom. A Bíblia diz que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Até mesmo aquilo que muitas vezes nós ferimos, nós machuca, que é permissão de Deus para um propósito maior. E de repente algo deste tipo também pode Deus usar para algo ainda maior. Esta criança pode tornar um grande homem. Um homem que venha fazer toda diferença numa sociedade. Agora também é uma decisão da mulher. Ela pode decidir. Não estou defendendo o aborto, mas entendo a parte da pessoa que foi acometida a algo tão perverso, tão ruim.

 

jangada.online: Em relação a campanha presidencial deste ano o que o Senhor considera? O país dividido em que as pessoas disseminam o ódio que contamina todos, sentimento este que perpetua nas redes sociais, e incentiva a prática da violência nas discussões políticas? 

Pr.Anderson: Estamos partindo para os extremos. Ao ponto da questão do ódio e independentemente de partidos políticos vimos até o episódio de facada em um presidenciável, e também agora em eleitores por apenas defenderem o seu posicionamento político. Estamos neste ponto de extremos. Tudo que é extremo não é bom. Para entendermos o que acontece no nosso país temos que ver a geopolítica e quando vamos lá para os Estado Unidos acompanhamos todo o processo de como foi a candidatura de Trump. Foi muito conturbado por lá também. Comparo como um espelho refletindo aqui em baixo. Aconteceu lá em cima e agora está acontecendo algo muito parecido aqui. É logico que tem suas diferenças porque lá eles são um país de primeiro mundo e nós estamos ainda em desenvolvimento. Mas, quando analisamos esta situação vemos a questão da esquerda e da direita. Esta briga não vem de hoje. Esta questão de direita e esquerda está na Bíblia também. Quando vamos ver os dois filhos de Isaac (Esaú e Jacó) eles foram dois irmãos gêmeos. Toda esta questão de conflitos em Israel, muçulmanos e judeus, veio desta dualidade de esquerda e direita. As guerras e seus conflitos eu comparo muito com a esquerda e a direita.

 

jangada.online: Qual o conselho o Pastor Anderson dar aos seus seguidores neste período eleitoral?    

Pr.Anderson: Não concordo com esta coisa de cristão defendendo muitas às vezes o seu candidato e deixando de lado as ações da igreja. Cadê este irmão com esta mesma intensidade e fé que ele está tendo pelo seu candidato para está numa vigília e nós orarmos e clamarmos pela nação? São coisas que acho muito estranho e falo para o povo de Deus. Tem gente indo para os extremos e isso não é bom.

 

jangada.online: Quem é o Pastor Anderson Cabral?

Pr.Anderson: Pastor Anderson é um Pastor que a cada dia olha para o mundo, para as pessoas e pedi que as pessoas entendam a minha forma de lidar com a obra de Deus. Nós estamos num momento que muitas vezes não sou compreendido. É uma das minhas indagações interiores. Por eu ter determinados posicionamentos. Na minha cabeça e no meu coração sempre a Bíblia é uma regra de fé, é meu manual de vida, aquilo que eu creio, aquilo que busco todos os dias. E as pessoas hoje preferem uma mentira doce a uma verdade dura. Às vezes eu falo aquilo que as pessoas não querem ouvir, mas aquilo que as pessoas precisam ouvir. Não quero machucar, não quero ser indelicado, mesmo sabendo que às vezes vou correr por este caminho, infelizmente. Mas, sempre digo o que realmente precisa ser dito e aí podem acontecer alguns conflitos. Não me interessa os aplausos dos homens. Quero fazer a vontade do meu Pai que está no céu. Estou nesta missão, na face desta terra, sou um jovem Pastor. Já errei muito, estou tentando aprender com meus erros, não sou perfeito. Porque quando temos este discurso mais duro as pessoas interpretam que a gente quer ser perfeito e melhor do que as pessoas e esta não é a minha intensão. Quem me conhece de perto sabe que gosto de abraçar, brinco, e as pessoas às vezes nem percebem. A imagem do Pastor pregando a palavra de Deus é muito forte e acaba até bloqueando a questão de quem eu sou no dia-a-dia. Quem sabe disso muito bem é minha esposa (risos).

 

Jesus teve a oportunidade de sobressair como líder político e não apenas religioso, mas ele negou “o meu reino não é deste mundo”  Pr. Anderson Cabral

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2 comentários em “Da política a igreja: Pastor Anderson condena o uso da religião para eleger candidatos

  • 23 de outubro de 2018 em 00:47
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    Esse sim é um pastor pregador da palavra de Deus. Homem íntegro. Conheço!

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  • 20 de setembro de 2020 em 10:36
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    concordo plenamente com o posicionamento do Pr. Anderson.

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