À sombra da falésia: um perigo aos moradores e visitantes do Pacheco

Desde outubro de 2019, a equipe vem desenvolvendo uma pesquisa para avaliar e mapear os riscos associados ao dinamismo das falésias localizadas na Praia do Pacheco, em Caucaia

Por jangada.online em

21 de maio de 2021 às 16:45 atualizado às 16:46

As falésias são subsistemas costeiros, como praias e dunas, que apresentam saliências caindo para o mar. As falésias podem ser esculpidas em diferentes rochas, especialmente, quando sedimentares, como é o caso das ocorrências na Praia do Pacheco (Caucaia), Morro Branco (Beberibe) e Canoa Quebrada (Aracati). Trata-se de um tipo de relevo costeiro com escarpas íngremes, resultado da ação conjunta dos agentes marinhos, subaéreos e/ou biológicos. À medida em que os processos marinhos e subaéreos vão se desenvolvendo, o topo e a base das falésias vão evoluindo, criando condições de desequilíbrio para uma consequente queda de blocos e desmoronamento de estruturas urbanas (casas, estradas, hotéis, muros e outros).

As falésias são formas de erosão cujo dinamismo pode levar à queda de barreiras, escorregamentos e avalanches. Essa situação é perigosa para os usuários da praia que ocupem a sua base para descanso e proteção do sol ou até mesmo para pessoas que se aproximem do topo para fotos panorâmicas, podendo ocorrer algum acidente.

Acidentes em falésias costeiras são mais comuns do que a maioria das pessoas pensa. Anualmente, milhares de pessoas visitam trilhas, grutas e penhascos e se colocam em risco para ter o registro de uma foto na borda da escarpa da falésia, podendo desequilibrar e cair ou, com o seu peso e a instabilidade da borda, provocar a queda do bloco.

Apesar do conhecimento técnico que envolve o risco do turismo em falésias, repetidos episódios com vítimas ocorrem em todo o mundo. No Brasil não é diferente, a exemplo do caso ocorrido em novembro de 2020, quando um casal e uma criança foram vitimados pelo desmoronamento de parte da falésia na Praia de Pipa, em Tibau do Sul (RN).

A equipe do Projeto RESMAR, coordenada pelo Professor Davis de Paula, da Universidade Estadual do Ceará, vinculada ao Laboratório de Geologia e Geomorfologia Costeira e Oceânica, vem monitorando, há mais de 10 anos, os riscos costeiros no litoral de Caucaia. Desde outubro de 2019, a equipe vem desenvolvendo uma pesquisa para avaliar e mapear os riscos associados ao dinamismo das falésias localizadas na Praia do Pacheco. O estudo ainda está em sua fase inicial, porém é possível inferir que se trata de um trecho costeiro com nítidos sinais de perigo aos usuários da praia e moradores locais.

Além disso, não há nenhum tipo de sinalização de risco no local, o que gera uma falsa sensação de segurança. Após oito meses de observação com diversos momentos de colapso da falésia, é possível afirmar que usuários e moradores estão sob forte ameaça, envolvendo a perda de vidas e propriedades.

Imagem: Prof. Dr. Davis Pereira de Paula.

 

Faz-se, portanto, necessário um esforço do poder público municipal para a identificação e demarcação das áreas de risco no litoral de Caucaia (e.g. Iparana, Pacheco, Icaraí e Tabuba), atividade para a qual o grupo RESMAR se coloca à disposição para contribuição futura. No caso da Praia do Pacheco, é urgente a inserção de placas a indicar o perigo de derrocada/queda de blocos da falésia. A sinalização deve ser posta na própria falésia (borda e base), nos acessos à zona da praia e nas áreas de estacionamento. Segundo o Professor Alveirinho dias, em entrevista ao Jornal on-line Público de Portugal: “as arribas (falésias) caem por definição”; “uma arriba (falésia) é um desenho da erosão”. Desta forma, barrar sua evolução é desafiar a própria natureza. Nesse caso, é preciso sempre considerar a segurança dos visitantes e moradores em detrimento a qualquer outro interesse. A sinalização do perigo é uma decisão de gestão que pode evitar uma tragédia.

 

Por: Prof. Dr. Davis Pereira de Paula

 

 

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