Na luta dos troncos velhos contra o poder econômico das chaminés
Nesta terça-feira (07/2) o momento foi de festa, celebração e de conquista da comunidade indígena Anacé. Olhando para o passado
Nesta terça-feira (07/2) o momento foi de festa, celebração e de conquista da comunidade indígena Anacé. Olhando para o passado será realmente que valeu a pena tudo que a comunidade passou até chegar aqui?
Algumas expectativas foram frustradas logo no início da jornada. Outras expectativas ainda estão sendo alimentadas com o que os Anacé esperam num futuro próximo. Sonhos reais que tem a chama da esperança de um dia ser concretizadas. Mas, os índios caucaienses podem afirmar que toda luta vale a pena. Caso ainda falta algo para ser feito a união da força impulsionará novamente a continuação da batalha.
Os Troncos Velhos, guardiões das memórias, os que conhecem o passado, detectores das tradições, os motivadores das lutas do presente para construção de um futuro sólido, em respeito à natureza, e as tradições indígenas, resistem às batalhas do impossível contra a esperança. Composta por pessoas simples que levam nas mãos e nos rostos as marcas cruéis do tempo. São mestres da cultura, artesãos, sábios, contadores de histórias e lendas. Mensageiros que curam através da natureza e com suas rezas operam verdadeiros milagres no dia-a-dia das comunidades.
Todos sofreram deste o início neste processo de relocação. Que diga os mais velhos que morreram com a angústia de abandonar o lugar para o trator da refinaria passar. Quantas casas foram destruídas? Quantas residências demolidas? A sinergia dos impactos causados pelo Complexo Industrial e Portuário do Pecém ao passo que trouxe desenvolvimento para o Estado do Ceará, também retirou o território sagrado das mãos dos Anacé. Agora, imagina o quanto foi e está sendo difícil para os mais antigos serem arrancados de suas casas, onde seus antepassados viveram e construíram a sua história?
Estas relações são muito complexas e não se pode mensurar na lógica capitalista. Mas, como tudo não pode ser apenas lamentações, os índios tem que erguerem a cabeça e seguir em frente sonhando e acreditando na beleza da vida. Fortalecer, unir e seguir a canção. Mudas das esperanças. Onde o sofrimento do passado será revertido pela resistência das raízes, do caule que dar galhos e folhas, do brotar sementes e do fazer sombra em um tempo de crescimento determinado pela espécie. Desta forma os Anacé continuaram a escrever a sua história de sofrimento e muitas conquistas.
Que diga os Troncos Velhos: Dona Maria Gil, Dona Carminha, Francisco Duarte, Dona Fandelice, Senhor Luiz Paulino, Dona Celeste, Senhor Expedito Paulinho, Mestre Antônio Adelino, Manuela de Água, Senhor do Zé Coelho, Dona Eliene Coelho, Antônio da Silva, Dona Luiza Rodrigues, Senhor Otávio, José Bolacha e Dona Maria José.
Na manhã desta terça-feira (06/2) foi entregue a comunidade indígena Anacé 543 hectares da área que abriga quatro aldeias: Matões, Bolso, Baixa das Carnaúbas e Currupião. A Reserva conta com 163 unidades habitacionais. Cada uma tem 80 metros quadrados. Além das casas, a Reserva tem ainda escola com padrão educacional indígena, posto de saúde, acesso viário, vias internas, sistema de energia elétrica, iluminação pública, água com infraestrutura de caixas d’água e poços profundos, e esgoto com fossas sépticas. Antes, as comunidades indígenas ocupavam o espaço onde seria instalada uma Refinaria Premium da Petrobrás no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
No documento que assegurava a área para implantação da refinaria a Petrobrás assumiria a relocação da comunidade indígena Anacé. No entanto, após o calote da Petrobrás com a desistência de construção da Refinaria Premium II, no Ceará, a população indígena que foi retirada ficou sem sua terra e sem a promessa cumprida de uma nova aldeia para instalação da comunidade Anacé. História que acabou em parte neste dia com a entrega da reserva pelo Governo do Estado do Ceará aos povos Anacé.