A cultura da violência que ronda Caucaia

Todos os dias a guerra das ruas mata mais uma vítima da ilegalidade do crime em Caucaia. Leia abaixo a crônica do jornalista Tiago Viana.

Por jangada.online em

28 de janeiro de 2020 às 00:05 atualizado às 13:55
FOTO: Thiago Gomes.

Quando abre o celular, nos grupos de Whatsapp, ela está lá. Entre uma foto e um vídeo, um áudio e uns escritos. Toda empolgante, encoberta de sangue e muita conversa sobre as possíveis teorias de mais um crime.

Quando abre as redes sociais, ela está lá. Apreciada com close e retóricas de comoção, dor e até satisfação. Parecem que só procuram notícias sobre assassinatos, mortes, violência, seja na esquina, na rua, na zona rural ou urbana. Quando liga a TV só assistem programas policiais, seja ao meio dia ou no período noturno.

Na rua não se falam em outra coisa: onde foi encontrado mais um corpo? Você viu a carne sem vida ao chão? Ainda tem aquela conversa com os vizinhos na calçada ou no trabalho: você assistiu aquele assalto? Aquela morte? Foi com faca ou tiro? Saiu um novo vídeo do acontecido… …compartilham daqui, curtem e compartilham dali.

Seja na rua ou dentro de casa o consumidor da cultura do sangue só pensa na desgraça alheia. Deitado no sofá fica esperando uma nova notificação de mensagem chegar. E que traga alguma sirene de polícia ou de ambulância, algum registro da marca da transgressão. O rabecão do IML já parece ser um parente próximo que segue a rotina de juntar pedaços de corpos espalhados nos bairros.

É tiro. É bala. É gente caída ao chão, sem hora e nem local. Caucaia de exumação do cadáver da paz. De fendas para a violência urbana e a guerra do controle do tráfico. Não tem limites para os limites dos territórios demarcados. Siglas pinchadas em muros que parecem ganhar das escritas nos livros sagrados das leis do Estado.

São jovens zumbis armados. Controlados pela força da pólvora que impõem o medo e o terror, a mágoa e o silêncio. Para ganhar a concorrência do comércio ilegal das drogas, o ambiente é capaz de tudo.

Cadáver de moça, menino, homem e mulher; cadáver de velhos e novos, a extrema força não exclui mais ninguém. E se não chega notícia de crime na tela do celular o dia parece ser triste. Vício de cultuar o errado. Com ou sem câmera para filmar, o sujeito já fica ansioso, todo se tremendo, não vendo a hora de chegar mais uma desgraça via Whatsapp, televisão, Facebook ou Instagram.

Acidente, faca, bala… …tudo que for para sair sangue parece valer mais que um sorriso, um abraço, um ser humano. Princípios da vida que estão soterrados entre uma cápsula e outra que cai do disparo de mais uma bala, mais um corpo e mais uma mãe chorando ao chão.

 

Por Tiago Viana

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