Na manhã do último sábado (24/3) pesquisadores do Projeto Interpesca/DEP da Universidade Federal do Ceará (UFC) encontraram um filhote de tartaruga marinha, provavelmente da espécie Eretmochelys Imbricata (tartaruga de pente), na faixa de areia da Praia do Icaraí, em Caucaia.

O inusitado achado apenas foi possível devido à realização de monitoramento da praia em busca de ninhos e/ou encalhes realizado por membros do Projeto Interpesca/DEP/UFC. Segundo o professor do Departamento do curso de Engenharia de Pesca da UFC, Renato César, das sete espécies de tartarugas marinhas existentes, cinco são encontradas no Brasil, e particularmente no Ceará.

Conforme o professor Renato César “o Ceará é uma área prioritária de alimentação destes animais migratórios e protegidos por lei devido ao seu risco de extinção”.

As tartarugas desovam na areia da praia do litoral de Caucaia. O calor do sol choca os ovos e determina o sexo dos animais. “Em cada postura são depositados perto de 180 ovos, que demoram cerca 60 dias para nascerem”, revela o professor.

Quando nascem, os filhotes fazem um movimento sincronizado e submergem da areia, até caminharem em direção ao mar. Estudos demonstram que as tartarugas retornam para colocar ovos, na mesma praia ou região onde nasceram.

Os trabalhos de pesquisa do Projeto Interpesca vêm fazendo o registro de encalhes e o monitoramento de ninhos da área compreendida entre os portos do Mucuripe até o do Pecém. Todos os 44 km do litoral de Caucaia são contemplados.

O projeto também é responsável por realizar operações de limpeza de praia e conscientização ambiental, como o acontecido no último domingo 18 de março (veja a matéria). A próxima limpeza de praia está marcada para o dia (15/4) em Caucaia, na praia da Tabuba. Em 2017 foram monitorados três ninhos e registrados mais de 300 nascimentos nesta praia.

“O achado deste filhote numa área povoada como no Icaraí demonstra que, apesar de todos os impactos que o homem vem causando à natureza e ao ambiente marinho, ainda existe esperança de recuperação e talvez até de diminuição do risco de extinção de espécies como as tartarugas marinhas”, reforça o professor, Renato César.

Sensibilização ecológica

A própria população de Caucaia desconhece que em suas praias há desova de tartarugas e servem de berço da vida marinha.

Não há sinalização para indicar as áreas mais propícias para os ninhos e nem é sistematizado uma conscientização dos moradores e frequentadores das praias para proteger os ninhos e os filhotes de tartaruga.

Os órgãos ambientais do município, os gestores e a sociedade deveriam criar estratégias no intuito de preservar, proteger e incrementar o turismo para que o litoral de Caucaia seja também conhecido como área escolhida, até pelas tartarugas, para dar continuidade a sua espécie, a vida.

Outra observação é dar suporte para incrementar ainda mais o monitoramento dos ninhos e das espécies que visitam o litoral de Caucaia pelas instituições de ensino como o atuante projeto da UFC. Trata-se de outro caminho a ser vencido para perpetuação das tartarugas marinhas. O mérito para os pesquisadores do Projeto Interpesca/DEP/UFC, que fazem o projeto acontecer, mesmo com as dificuldades, sem apoio das autoridades e sem fins lucrativos.